Lifestyle

entrevista com Madama Brona

“A cidade abriu minha mente e várias possibilidades que antes não existiam”

Ex-advogada e agora uma das astrólogas mais bombadas da internet, Bruna Paludo conta como São Paulo foi o lugar de encontrar novos caminhos para a sua vida. Por Graziela Salomão

Olhar para o horizonte faz bem para a visão e para a saúde mental. Assim como contemplar o céu, questionar a realidade, e até nossa existência pode te fazer um ser humano melhor. E isso é afirmado em uma pesquisa publicada no períodico American Psychological Association. O que estudos científicos tentam provar é um costume milenar que já foi ferramenta importantíssima em muitas civilizações antigas. 

Procurar por respostas olhando para o céu é uma das bases da Astrologia datada de 3 mil anos a.C. Aprender a observar os planetas e os movimentos celestes ajudou na agricultura, orientou o crescimento de cidades do passado e impactou no desenvolvimento da própria ciência. “Gosto de ver a astrologia como uma linguagem e uma ferramenta que nos ajuda a pensar”, diz Bruna Paludo, conhecida na web como Madama Brona, a astróloga e influenciadora que compartilha seus conhecimentos para mais de 220 mil seguidores no Instagram. “Astrologia é também o exercício de observar o céu, aquele que enxergamos a olho nu e compartilhamos coletivamente. Mas, nos centros urbanos, isso está cada vez mais difícil. Poluição, excesso de luzes, insegurança nas ruas, prédios que escondem um bom pedaço do céu, tudo isso nos afasta do contato com ele e com esse hábito milenar de apenas contemplar o horizonte.”

Brona nasceu em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, se formou em Direito, trabalhou como advogada e também atuou na área política. Quando se mudou para São Paulo, viu o hobbie virar trabalho. Hoje, ela comanda um podcast com análises astrológicas, escreve uma coluna mensal na revista Elle e tem canal também no YouTube. 

E será que uma cidade como São Paulo também pode ser influenciada pelos astros? “São Paulo é uma cidade aquariana. E bota aquariana nisso: gigantesca e ansiosa, que reúne pessoas com experiências diversas. São várias realidades que se organizam para viver em coletivo“, conta nesta entrevista ao Mulheres e a Cidade. Aqui, Brona fala sobre esse assunto e também como viver na capital paulistana a transformou e impactou nas novas decisões que tomou na vida.

Graziela Salomão: Como essa mudança de cidades te transformou? E qual delas tem mais a ver com você?
Madama Brona: Nasci em Passo Fundo, mas vivi em outras pequenas cidades interioranas durante minha infância. Minha família mudava muito. Tive a oportunidade de ter diversas experiências e entender como cada cidade mexia com a minha personalidade. Amo as pessoas que surgiram nesse caminho, tive amizades importantes. Em Passo Fundo, tenho familiares e pessoas que sinto saudades, que contribuíram para essa pessoa que sou hoje. Me sinto mais em casa em São Paulo, aqui construí minha vida adulta e passei por coisas importantes. Morar aqui me mudou como pessoa, acabou com algumas ilusões, trouxe oportunidades, me fez crescer. No momento, prefiro viver num lugar mais movimentado. Talvez isso mude no futuro.

GS: Você fez uma transição de carreira chegando a São Paulo. A cidade te influenciou nessa decisão?
MB: A cidade abriu minha mente e várias possibilidades que antes não existiam. Cheguei em São Paulo meio perdida, mas isso rapidamente se resolveu. As pessoas que encontrei aqui me mostraram um caminho que jamais tinha imaginado. Me formei em Direito no Rio Grande do Sul, advoguei por algum tempo, e astrologia era meu hobbie. Quando mudei pra cá, o hobbie virou trabalho.

“Cada lugar onde vivi mudou meu estilo de vida e meus interesses. Foi morando em São Paulo que me tornei ainda mais mística”

GS: Como a cidade te atravessa? 
MB: Cada lugar onde vivi mudou meu estilo de vida e meus interesses. Foi morando em São Paulo que me tornei ainda mais mística, o que é esquisitíssimo. Algumas situações e realidades dessa cidade nos fazem duvidar se realmente existe um porquê na vida. Talvez nada faça sentido, e aqui eu fiz as pazes com isso. Não estou mais procurando sentido, estou procurando apenas viver e experimentar o que vier.

GS: Você gosta de caminhar pelas ruas? Se sente segura?
MB: Amo fazer tudo a pé, amo a convivência de bairro, sentir o clima, mas é impossível se sentir segura nessa cidade. Atenção constante, não dá pra bobear. Mas também acho importante continuar caminhando.

GS: Você acha que espaços urbanos e cosmopolitas como São Paulo fazem as pessoas estarem mais abertas à astrologia?
MB: Nunca pensei nisso, na verdade. Acho que a astrologia é tão versátil que se encaixa em diversas realidades.

GS: Como você vê as relações entre cidades, relacionamentos contemporâneos e a astrologia?
MB: Morar numa cidade grande pode dificultar vários relacionamentos, tanto pessoais como de trabalho. Amigos que demoram para se encontrar, pessoas que não podem estar presentes no dia a dia. Existe uma solidão que é contraditória ao número de pessoas numa cidade desse tamanho. A astrologia estuda a qualidade do tempo, e tempo é um artigo de luxo, especialmente em São Paulo. Aqui a gente tem essa sensação de que o tempo tá acelerando.

“É fácil se sentir solitário nessa metrópole em que não sabemos nem os nomes dos nossos vizinhos. Muita gente vem pra cá para se libertar de uma outra vida, em busca de pertencimento e de comunidade e faz questão de bancar uma vida mais livre e independente.”

GS: A astrologia poderia fazer uma leitura da São Paulo e de todas as contradições que formam a cidade?
MB: São Paulo é uma cidade aquariana. E bota aquariana nisso: gigantesca e ansiosa que reúne pessoas com experiências diversas. São várias realidades que se organizam para viver em coletivo. Aqui tem uma certa frieza e uma feiura cinematográfica que pode encantar quem busca uma beleza inesperada. Ao mesmo tempo que precisamos viver em coletivo, é fácil se sentir solitário nessa metrópole em que não sabemos nem os nomes dos nossos vizinhos. Muita gente vem pra cá para se libertar de uma outra vida, em busca de pertencimento e de comunidade e faz questão de bancar uma vida mais livre e independente. São Paulo e o signo de Aquário tem essa coisa da contradição e da complexidade. Não é fácil de entender de primeira. Assim como Aquário, essa cidade é muito mental, ansiosa, focada no trabalho, no fazer em conjunto e diferente. Só que sabemos que as realidades coexistem e algumas não são nada fáceis e não podemos culpar o signo. Não tem nada a ver com um destino mágico pré-determinado. A política é coisa nossa, das pessoas, e é nossa responsa organizar as mudanças que precisam acontecer e proteger o que merece ser conservado.

GS: E se você fosse escolher uma carta para representar São Paulo, Rio, Salvador e Porto Alegre, quais seriam?
MB: São Paulo é a carta do Carro, tudo aqui é trânsito e correria, e também muito trabalho. Rio de Janeiro é a carta da Estrela, a natureza faz a cidade ter um encanto muito especial, mas que ilude. Salvador é a carta do Sol, um lugar muito influente. E Porto Alegre tem vibes da carta da Lua, mais introspectivo e contemplativo.

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