Cultura

entrevista com Mel Lisboa

“Sinto que o que a cidade tem para me oferecer e o que posso oferecer a ela é uma troca genuína”

Vivendo Rita Lee nos palcos pela segunda vez, atriz fala sobre o quanto a rainha do rock conseguiu, de forma única, desconstruir a complexidade de São Paulo, cidade que Mel adotou como lar

Mel Lisboa em cena de “Rita Lee: uma autobiografia musical” (Divulgação | Priscila Prade)

Rita Lee era sinônimo de São Paulo. Declarou seu amor inúmeras vezes. Caminhar pela cidade, em especial pelas ruas da Vila Mariana, bairro onde a artista morava, ouvindo as músicas de Rita, é quase despir os paradoxos de amor e ódio que nutrem a capital paulista. Um ano após sua partida, o legado da cantora continua vivo através de Mel Lisboa. O musical “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”, em cartaz desde o fim de abril no Teatro Porto, conta a história da Padroeira da Liberdade, como era conhecida, baseada em suas próprias memórias. 

Vivendo a cantora nos palcos pela segunda vez, Mel Lisboa fala, nesta entrevista para o “Mulheres e a Cidade”, sobre o privilégio de interpretar Rita e do quanto a rainha do rock conseguiu, de forma única, desconstruir a complexidade de São Paulo, cidade que a atriz também adotou como lar.

Mulheres e a Cidade: Como tem sido viver Rita Lee nos palcos na primeira obra após a morte da cantora?
Mel Lisboa – Um privilégio e um prazer interpretar a Rita nesse momento em que ela faz tanta falta. Sinto que é uma responsabilidade imensa também porque não é simplesmente fazer um espetáculo que as pessoas gostem ou não, mas estou mexendo com a emoção e com a vida delas diretamente, que a Rita permeou com suas músicas. Tem sido muito emocionante, além de uma experiência realmente engrandecedora.

MC: Rita Lee é um símbolo de São Paulo. Como você vê a ligação entre a cidade e a cantora?
ML: A Rita sempre afirmou a relação dela com São Paulo. Sempre se colocou como paulistana, trouxe a cidade como cenário das coisas que fazia, na letra das músicas, o sotaque. Trouxe São Paulo para um protagonismo e representava a cidade. Tanto que uma música muito icônica de São Paulo foi feita para ela por Caetano. “Ainda não havia para mim Rita Lee, a sua mais completa tradução”. Era a Rita ali explicando que São Paulo é legal e eles não conseguiram entender, até verem a beleza e a complexidade do lugar.

“Todas as músicas da Rita,
de certa maneira, representam
São Paulo. Essa ligação dela
com a cidade é muito intrínseca”

MC: Como a cidade te impacta? 
ML: Eu escolhi São Paulo para morar. Sou muito feliz com a minha escolha. É óbvio que sei dos problemas e de todas as questões. Já moro aqui há 20 anos, me identifico com a cidade e sinto que o que ela tem para me oferecer e o que posso oferecer a ela é uma troca genuína. Acho que isso compensa também os pontos negativos.

MC: Que música da Rita Lee você acha que expressa mais essa relação dela com a cidade?
ML: Difícil escolher até porque acho que todas as músicas da Rita, de certa maneira, representam São Paulo. Essa ligação dela com a cidade é muito intrínseca. Tem “As meninas de samba” em que acho que ela brinca com a relação das mulheres, por tudo que ela representou para as mulheres e para a cidade. Acho que pode ser uma boa escolha.

“Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”
Teatro Porto 
Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos
Sex. e sáb., às 20h; dom., às 17h. 
Até 30/6
A partir de R$ 80, em sympla.com.br

Essa entrevista faz parte da coluna “Mulheres e a Cidade”, da revista Conexão C.Kamura

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